Thursday, November 18, 2004

Espaço Eterno - I

O céu estava escuro. Fagulhas desciam do firmamento, se acumulavam na superfície, logo depois libertavam seu último brilho, então, solitárias, esvaíam-se totalmente, descrevendo um verdadeiro mar de cinzas em algum lugar totalmente desconhecido.

As gigantescas montanhas, iluminadas em meio à escuridão, impunham aos olhares dos visitantes daquela terra inóspita seu poder e eternidade. A terra vibrava, o vento percorria seu trajeto infinito, ora ameno, ora raivoso ou ainda quase cortante.

Parecia haver som, ao mesmo tempo em que o silêncio era quase absoluto. A relva que despontava parecia querer caminhar até o horizonte, deixando para trás aquela terra estéril, em busca de vida nova. Mas isso todos que ali estavam pareciam querer. Tudo que naquele lugar parecia querer mover-se para longe dali, ao mesmo tempo em que tudo parecia conspirar para a perenidade da situação. Ao mesmo tempo em que tudo ali era desejado, nada parecia ser alcançado. Ou porque já o fora, ou porque nunca o seria.

- É a sinceridade em seus olhos que eu tanto desejei ver tem tues lábios - confessou aquele homem tomado repentinamente de sincera mágoa e honesto desejo.

- Você não os quis ver - declarou ela, encarando-o a fronte com seus olhos voluptuosos, mas sinceros.

- Seus beijos foram bons, Teri. Queria vê-los sem sua malícia depravada - disse ele, agora comprimindo à peculiar arma fortemente de encontro ao abdôme dela.
Neste momento, o rosto daquele homem desfigurava-se em sentimentos contraditórios, mas com uma certeza: o fim chegaria.

- Eu...

- Cale a boca - ele exigiu e em seguida olhou para a muralha - O que está atrás da muralha, Teri? Você não me diria nem em mil anos, como não me disse nesse tempo todo.
Ela silenciara-se, então.

O corpo dele retesou-se, olhar vidrado numa muralha imediatamente atrás dos dois, de onde caíam singelas labaredas azuis, contrastando com as fagulhas quase dormentes que pousavam levemente na superfície ao redor. Ela entreabriu os lábios, mas na pequena fração de segundo sentiu a dor avançando-lhe sobre o corpo. Então ele disse:

- Eu já a mandei se calar! - gritou ele, no limiar da normalidade. Eu não quero que você fale nada! Não é agora que fará a menor diferença o que você sabe ou deixa de saber!
Ela concluiu que ele já a conhecia há muito tempo, e não caíria nos mesmos ardis de outrora - ardis que ela era obrigada a enredar contra ele. Para o bem dele. Pelo menos era nisso que ela queria acreditar. E até então acreditara. Mas agora as coisas haviam-se complicado além da conta.

E agora ele exigia dela, na verdade, compreensão, apontando-lhe o gatilho e exigindo-lhe o silêncio; e tudo isso naquela terra estranha e inconcebível. Ele, depois de tanto tempo, queria que ela o compreendesse. Mas ela o compreendia! Será que ele não conseguiria entender que se faltava compreensão alguém era a ele? Teri quis rir de sua própria tolice em imaginar coisa assim tão contraditória.

- Sabe por que não me importo mais, querida? - disse ele aproxiamando seu rosto dos ouvidos dela - Por que eu já sei.

Ele sentiu o leve calafrio que percorreu seus corpos depois daquela afirmação, mas ele não poderia precisar quem foi que o emitiu. Na verdade, foram ambos.

Mas o tremor de Rednox foi de puro êxtase e vingança, pela libertação de um orgulho há muito ressentido.

O de Teri poderia ser traduzido como a mais pura e absoluta Morte.